22.Jun.2020
Por Laura Leonardo da Silva
Entrar em um túnel escuro quase sempre traz um desconforto enorme. Nessa situação é comum procurar um sinal, por menor que seja, de luz. E assim que se encontra, o olhar se ajusta à nova situação. Para os professores foi essa a sensação quando a pandemia os tomou de assalto e isolou uns dos outros.
Para quem está na escola, que faz a escola e que é a escola, ocorreu uma intensa transformação. A princípio todos os endereços se misturaram, as casas das famílias e as dos professores tornaram-se próximas. Todos frequentaram espaços nunca imaginados. Na “sala de aula”, entravam pai, mãe, avós e até animais de estimação. Não havia mais portas, só janelas. E olhando por elas os professores reaprenderam a olhar para cada um de seus alunos para o seu tempo e para o seu espaço. Como diria a professora Julia: “Cada criança possui o seu tempo e ele deve ser respeitado para que esse processo seja prazeroso e significativo.”
Tudo foi modificado e aquele imenso terreno da escola se ampliou, alcançou distâncias e situações singulares que não poderiam ser experimentadas senão dessa maneira. Isso fica claro no relato da professora Silmara: “Foi uma emoção enorme ver a tia--avó da Bia Couto, professora aposentada com 89 anos, acompanhar e fazer as atividades com a classe! Um momento pra lá de especial, duas gerações diferentes aprendendo e ensinando.”
Naquela tela coube de tudo. Cabiam professores e colegas. Mas só não cabia a saudade como no registro do professor Lucian: “ sem ninguém pra conversar/ sem ninguém pra perceber/ que o que sinto não é tristeza/ É saudade de vocês!” O curioso foi que no início mal se sabia que iria aumentar muito de tamanho.
Tudo o que foi vivido tem sido muito singular e reinventar-se foi um verbo muito conjugado em grupo também. A criatividade ganhou lugar novo. A professora Karla inclusive inventou uma palavra pra traduzir essa experiência: “inventei a palavra “extânico", uma mistura de êxtase com pânico, para tentar representar os meus sentimentos durante o EaD. Êxtase e pânico fizeram-me, enfim, repensar, pensar, desconstruir e construir muito. Crenças e valores foram revistos.”
Assim, a ideia de que teorias não substituem a experiência de vida atingiu um outro patamar de sentido. Foram muitas as trocas... muitos conheceram histórias e ressignificaram seus papeis, valorizaram todo esse aprendizado. Até os vários memes veiculados na rede reproduziram nova importância dos professores para as famílias.
Desse processo fica a certeza de que “Juntos somos mais fortes”, o lema da turma do 3º ano repetido várias vezes nos desafios de aula, cuja origem está associada à reflexão da professora Cláudia: “...abraçamos todos esses desafios e ganhamos muito! Tenho certeza de que fizemos excelentes escolhas e que terminaremos este período de quarentena mais unidos que antes! Juntos somos mais fortes”.
Para achar aquela luz no fim do túnel foi preciso estar no lugar certo-- mesmo que virtual -- e com as pessoas certas. Esse lugar, de acordo com a professora Vanessa do segundo ano, é aqui: “Estar no Sidarta, neste momento, fez toda diferença na minha vida, pois não conheço escola que tenha um olhar cuidadoso e integrador para todos...”