Da Fantasia ao figurino: o percurso do teatro na escola

29.Ago.2018

Denise Schnyder*

O faz de conta, também chamado de jogo dramático, remete à ideia de fantasia, roupas que as crianças pequenas vestem para se transformarem em personagens. A fantasia é um dos principais elementos das vivências teatrais nessa primeira fase da vida. Diferente da criança grande, que já possui um repertório de vivências e imagina de olhos fechados, a criança pequena, ao se encantar por um personagem, ou por uma história, não busca respostas dentro de si, pelo contrário, começa a observar e buscar ao seu redor pessoas e objetos que enriqueçam sua compreensão e suas vivências sobre o fenômeno que foi contado.

O que a criança vivencia de faz de conta nessa fase da vida criará dentro dela um verdadeiro arcabouço de imagens, sensações, percepções e inter-relações. A história que ela escuta ganha vida no ambiente à medida que vai sendo contada. É possível vê-la testando movimentos, imitando gestos, repetindo palavras e tons de voz, testando reações e relacionando a história aos objetos que estão ao seu redor. Assim, uma simples colher pode se tornar uma varinha mágica ou uma espada, sua função original desvinculada de sua forma e conectada à imaginação pelo gesto e o movimento.

Quando pensamos em fantasias para crianças pequenas precisamos considerar que, internamente, ela nunca crescerá tanto em nenhuma outra fase da vida. Seus pulmões, seus ossos, seu coração e seu cérebro se transformam diariamente. Por isso, uma boa fantasia deve permitir que a criança cresça dentro dela, em todos os sentidos. Em um primeiro olhar, as lindas fantasias de personagens, compradas prontas, encantam os adultos e impressionam visualmente as crianças. Mas são os tecidos e objetos não-estruturados e manipuláveis, de cores, pesos, texturas e tamanhos variados, que despertam para a riqueza do faz de conta.

Assim é a imaginação que vive na criança pequena: plástica, pictórica e extremamente material, pois depende de um estímulo externo real e manipulável. Performática, imitativa e real, pois depende de tempos verbais mágicos entrelaçados à ação. A criança pequena ainda não sustenta o personagem, mas se transforma a todo momento; sai e volta dele, para construir e solucionar os problemas narrativos que encontra. O faz de conta acontece no momento presente, não é memorizável e é impossível de ser repetido e, portanto, não está ainda enquadrado dentro do que se convencionou chamar de teatro, ou melhor, encenação.

Percurso teatral

A criança que experimentou uma infinidade de personagens, movimentos e situações no faz de conta e teve espaço em sua mente para elaborar essas imagens, terá, na idade escolar, a partir dos 6 anos, um arcabouço maior para vivenciar sua vida interior. Terá elementos para imaginar de olhos fechados, com riqueza de detalhes. Poderá criar e construir imagens e terá mais facilidade para atingir o pensamento abstrato. A imaginação da criança grande vive do pensamento e da memória e, portanto, pode durar muito tempo. Sua fantasia acontece internamente, tem vida própria e não depende de estímulos externos. Essa criança maior começa a criar sólidas imagens internas que vivem por dias dentro do seu coração e da sua mente. É a partir dessas imagens que ela constrói seus refúgios e seu alicerce e, quando jovem, é a partir delas que construirá seu ideal de mundo.

Ela ouve a história e logo começa a navegar em pensamentos imaginando e recriando cada detalhe. Não procura as respostas no espaço que a circunda, mas procura compreender a história dentro de si, costurando nela novos sentidos. Ela venera os personagens, imagina-se como eles em cada situação e mistura seus sentimentos aos deles. Bebe das histórias, em grandes goles, aproveitando cada lógica, cada símbolo e arquétipo que poderá ajudá-la em situações futuras. Aprende que, para vivenciar um personagem, não basta apenas se vestir como ele, pois já não é suficiente. É preciso construí-lo com sua mente, seu corpo e suas mãos.

Nas aulas de teatro do Colégio Sidarta, as crianças maiores estão prontas para criar histórias vivas a partir de imagens e conceitos, pensando e compreendendo as vontades e os conflitos de cada personagem. O pensamento imaginativo, as reflexões em grupo, a voz e o corpo ganham importância, a vida interior constrói o que antes chegava de fora por fantasias coloridas. O jogo dramático vira improviso, torna-se consciente, pode ser treinado. A improvisação se torna somente um dos tantos procedimentos que os alunos terão para criar um personagem que entrará em cena.

Agora, o personagem precisa ser sustentado, a história deve estar memorizada, a escolha de sair do personagem e voltar deve ser uma escolha artística e não mais uma necessidade. A roupa cênica construída de dentro para fora perde o nome de “fantasia” e ganha o nome defigurino” ou “roupa cênica”. O figurino caracteriza um personagem específico, enquanto a roupa cênica mantém um grau de plasticidade, que permite algumas transformações e possibilita a atuação das crianças em coro e o compartilhamento de personagens.

O jogo dramático e a fantasia evoluem dessa forma para o jogo teatral, para as convenções teatrais, para os modos de produção e composição de cenas. A brincadeira vai se transformando, aos poucos, em arte, em processo de criação, compromisso com o grupo, superação de obstáculos e realização de projetos coletivos. Assim, à medida que os anos passam, podemos descobrir a riqueza da arte do teatro, uma das mais antigas artes pensadas pela humanidade. As crianças aprendem que, para os adultos, o brincar não se perde, ele se transforma em trabalho cooperativo, em fazer artístico, em soluções lógicas, intuitivas e criativas.

*Denise Schnyder é professora de Teatro no Colégio Sidarta

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