
Alunos de diferentes turmas aprendem línguas juntos
No Colégio Sidarta, os alunos aprendem línguas em turma com alunos de diferentes idades. Ou seja, tudo para considerar a heterogeneidade na aprendizagem
por Aline Mendonça*
“Quanto tempo levamos para aprender uma língua estrangeira?”, “Não vou entender nada nas aulas de inglês.”, “Mandarim? Minha turma já sabe muito e eu ainda não sei nada.” Ao refletir sobre essas indagações, nós, no Colégio Sidarta, começamos a nos questionar sobre um modelo que considerasse a heterogeneidade na aprendizagem, mas que, ao mesmo tempo, desse aos alunos a chance verdadeira de se desenvolver em seu próprio processo de aprendizagem de língua estrangeira.
É muito comum recebermos, especialmente ao longo dos anos do Ensino Fundamental, alunos diversos, com diferentes repertórios e exposição a línguas estrangeiras. Alguns vêm de escolas internacionais, outros, de fortes institutos de idiomas. Há também quem venha apenas com a bagagem oferecida pela grade curricular mínima exigida por lei na grande maioria das escolas. Como, então, adequar-se às altas expectativas e atingir o nível de desenvolvimento esperado em uma escola que, desde sua fundação, valoriza a interculturalidade, o ensino de línguas e o acesso ao mundo por meio desse saber?
O adulto conversa com a criança. O adolescente interage com o idoso. As pessoas se relacionam por meio da linguagem, independentemente da idade. Seja em um ambiente de descontração ou num corporativo, outros fatores contribuirão para o agrupamento das pessoas. Essas relações acontecerão na transmissão, recepção, interpretação e resposta ao que foi dito. Assim se estabelecem as relações, permeadas e recheadas de linguagem.
Com essas reflexões, propusemos um novo modelo para nossas aulas de línguas, analisando que, em outros contextos da nossa escola, os alunos já intencionalmente compartilham diversos momentos multisseriados. O trabalho em escolas regulares, considerando outras maneiras de agrupamento e subagrupamentos esbarra em diversas questões – das logísticas às de investimento financeiro, das pedagógicas às de crenças –, às vezes, limitantes. De fato, algumas áreas do conhecimento requerem diferentes níveis de cognição e abstração. Para o ensino formal de línguas estrangeiras, nossa escolha foi agrupar os alunos considerando níveis semelhantes de desenvolvimento e maturação fisiológicas.
Muitos ganhos na hora de aprender línguas
Os agrupamentos multisseriados podem, sim, considerar ao mesmo tempo a heterogeneidade e a unidade presentes na diversidade da sala de aula. Observamos, com essa iniciativa, aspectos muito positivos na relação e na interação: há ganho no repertório e na formação identitária com pessoas de idades diferentes, há troca, mudança e também afirmação de valores e crenças (por que não?). Há debates, discussões, inquietação, dúvidas em relação à ansiedade das famílias que, acostumadas com a seriação, afligem-se no início com novas formas de agrupar.
É importante perceber que não deve haver extremos na prática educativa. Há um continuum entre uma extremidade e outra e razões para diferentes escolhas. É de suma importância e, para nós, um eixo e um valor, entretanto, que cada escolha seja minuciosamente analisada, e que diferentes saberes sejam aplicados de forma correta para diferentes áreas do conhecimento e caminho que se quer trilhar.
Esse aluno que é multi, inter e intracultural, diverso em sua identidade, por vezes, espectador e, muitas vezes, protagonista, e que absorve o mundo por meio da linguagem, que se expressa para o mundo por meio da linguagem: esse é o aluno que queremos formar. Diverso e único, com o foco no mundo e em si.
*Aline Mendonça é coordenadora de Línguas Estrangeiras