No que acreditamos

Quanto mais interação, mais aprendizagem

Para conseguir equidade em uma sala de aula precisamos nos perguntar: com o que uma sala de aula equitativa se parece? Como saberei que se trata de uma sala de aula equitativa quando estiver diante de uma? Note que aqui, fica claro que salas de aula equitativas e equidade podem ser percebidas e avaliadas continuamente. Algumas salas são mais equitativas do que outras, e nós seguimos lutando por mais e mais e mais equidade.

Uma das características de uma sala de aula equitativa é que todos alunos tem acesso a um currículo de qualidade, a atividades intelectualmente desafiadoras, e todos eles tem o mesmo status com colegas de sala e com professores e as mesmas oportunidades de interação, com eles e com materiais didáticos – e por materiais didáticos o que quero dizer são livros, materiais manipuláveis de uso comum e textos em geral.

Eles resolvem problemas da vida real, tratam de dilemas, eles tem coisas sobre as quais conversar e fazem isto democraticamente e de igual para igual. Esta é a finalidade de uma sala de aula equitativa.”

Uma sala onde todos os alunos conseguem enxergar uns aos outros como colegas e pares, competentes e contribuintes para o aprendizado comum enquanto estão engajados em atividades e conteúdos sérios. Este, para mim, é o cenário ideal. Eles resolvem problemas da vida real, tratam de dilemas, eles tem coisas sobre as quais conversar e fazem isto democraticamente e de igual para igual. Esta é a finalidade de uma sala de aula equitativa.

Eu acho que, às vezes, as pessoas confundem isso com uma sala de aula “amigável” de maneira equivocada, por que o trabalho em grupo é visto como “a resposta” para isso. A gente realmente vê que salas de aula que realizam atividades de grupo são, de fato, mais amigáveis pois os alunos conhecem uns aos outros, sabem os nomes dos colegas e conversam um pouco mais entre si. Mas isso não necessariamente tem a ver com a questão do status igualitário na interação das crianças.

Eles podem ser mais amigáveis, mas não necessariamente enxergam alguns estudantes específicos como particularmente competentes ou “inteligentes” e, portanto, não conseguem enxergá-los como contribuintes para o eles ou para trabalho de grupo. A fundamentação teórica para a ComplexInstruction, e, portanto, para o Ensino para a Equidade, vem da teoria Expectation Status Theory. Características de status são situações em que a sociedade concorda serem melhores do que outras. Por exemplo, a sociedade concorda ou a sociedade sabe que é provavelmente melhor ser rico do que ser pobre.

Em algumas sociedades, mais poder e prestígio está relacionado a uma posição alta no status. Se você é branco, em contraposição a ser uma pessoa “de cor”. Gênero é uma característica difundida de status também, então mais poder e prestígio é dado para os homens em determinadas situações – e há muitos outros fatores como, idade às vezes.

A teoria fala também sobre características específicas de status que mudam de acordo com situações distintas. Em sala de aula, especificamente em salas dos primeiros anos do ensino fundamental, a habilidade de leitura é percebida como uma característica de status. O que é muito incrível, foi uma pesquisa feita no final da década de 70 onde solicitaram que crianças de salas de aula do 4o ano ranqueassem os seus colegas e a si mesmos de acordo com suas habilidade de leitura. É inacreditável, mas os estudantes completaram a tarefa e seu resultado correspondeu em alto grau com o diagnóstico e ranking do professor. A teoria também fala sobre algo que se chama de generalização de status.

Quando temos uma situação onde tudo o que sei é que você é bom de leitura, e a atividade que temos que fazer não o tem nada a ver com leitura, como … Precisamos construir algo – um modelo de avião com legos. Eu ainda vou generalizar, partindo do fato de que você é bom de leitura, e considerar o mesmo nível para a sua competência em construção com legos, por exemplo. Quando professores explicam aos alunos que a tarefa exige múltiplas habilidades intelectuais. Por exemplo, uma atividade específica exige que você entenda o texto, fale sobre as ideias, você resuma de formas que façam sentido e explica depois. Sintetizar e fazer um a representação visual de um poema que você leu.

As crianças chegam nas escolas com um repertório muito rico, do qual nunca tiramos vantagem, com o qual nunca nos importamos, ao qual não damos valor e não damos uma chance para que elas mostrem o quão inteligentes são – e elas são, de fato, incrivelmente inteligentes.”

Construir, fazer uma pintura bonita a partir dela esta tarefa em particular requer tantas habilidade e coisas diferentes a serem feitas que, em primeiro lugar, uma pessoa sozinha teria muita dificuldade para fazer tudo sozinha em 25 minutos ou meia hora, então eu preciso de todos e todas as habilidades.

E, na verdade, nenhuma pessoa tem sucesso em tudo o tempo todo, o que é um problema enorme para as crianças de hoje, na escola, que estão acostumadas a serem bem sucedidas em tudo Porque as atividades são tão medíocres e este é o motivo pelo qual elas são sempre bem sucedidas Mas nestas atividades multidimensionais, amplas e ricas é preciso de muitas formas de inteligência, então Howard Gardner fala sobre inteligências múltiplas e é um trabalho excelente.

E, às vezes, o que quero dizer é que provavelmente o principal feito dele foi tornar a inteligência plural, ele fez inteligências – não é somente uma. Ele simplesmente colocou um S a mais e esta letra ao final da palavra é perfeita. Este é o primeiro passo. Fazer crianças perceberem que existem diferentes tipos de habilidades, potencialidades e talentos com os quais podemos contribuir, que vêm da escola mas também vêm de nossas experiências externas. As crianças chegam nas escolas com um repertório muito rico, do qual nunca tiramos vantagem, com o qual nunca nos importamos, ao qual não damos valor e não damos uma chance para que elas mostrem o quão inteligentes são – e elas são, de fato, incrivelmente inteligentes. Então é isto, fazer com que eles percebam isto. E quando os alunos efetivamente trabalham nestas tarefas e elas exigem múltiplas habilidades para cumpri-las ou diferentes formas de ser inteligente.

Então, enquanto professora, posso observar os diferentes grupos e dar feedback especifico a todos os alunos e, especialmente aquelas crianças que nunca foram vistas antes pelos seus colegas como pessoas que contribuem ou como inteligentes. Então, eu estou mudando expectativas. Por que eu posso dizer mais e mais “Uau! Olha só ele, olha o que ele fez!”. Isto é mudar expectativa. Então, quando eu entro numa situação nova, eu não vou automaticamente dizer, “Ah! Esta pessoa será aquele que resolverá o problema e eu poderei simplesmente relaxar.”Todos tem que mostrar trabalho e fazer algo para realizar a atividade que está sendo pedida.

Eu acredito que a mensagem que estamos tentando passar é contranormativa para escolas onde tudo é tão limitado. É contranormativa para professores e contracultural, em muitos sentidos, pois nós estamos sempre buscando achar a melhor pessoa para qualquer medida estúpida que a gente desenvolveu. E aqui é mais sobre… vamos olhar para a riqueza.

Agora, o que é bom desta história toda é que, ao final, a leitura e a escrita e todas as habilidades para fazer provas nas quais os alunos tem que demonstrar desempenho, estão realmente presentes. Existe uma falsa dicotomia quando se diz que se eu tenho uma atividade rica e se eu ensinar à eles pensamentos em níveis mais altos, e conversas profundas, eles não irão bem nos testes. Mas isto não é verdade. Isto é realmente uma falsa dicotomia. Começaram com a pergunta: Como as salas de aula equitativas se parecem? E eu disse que todos as crianças tem que trabalhar num currículo rico academicamente. Ambos, professoras e alunos, entendem que terão diferentes oportunidades de demonstrar suas inteligencias de maneiras diferentes, em sentidos distintos e em momentos diferentes, Eles entendem que ser inteligente pode ser aprendido, que é incremental e multidimensional.

E finalmente, numa sala de aula equitativa, (e este é o ponto onde sei que tenho mais resistência, e provavelmente uma compreensão equivocada), é que o aprendizado está concentrado ao redor de uma média restrita do que é aceitável E então existirão algumas poucas crianças que estarão abaixo e outras acima. Então não é uma curva “normal.” O Desempenho em uma sala de aula equitativa não obedece a distribuição de uma curva normal. Por que em uma curva normal, somente 60% dos alunos estarão dentro do que é aprendizado aceitável. Eu falo de um lugar onde aprendizado é demonstrar o que os alunos sabem, o que todos os alunos sabem. Então neste gráfico de provas padronizadas, se um item da prova não discrimina, se tem algum item que todos sabem como responder, eles são retiradas da prova pois não discriminam, correto, pois eles precisam mostrar uma curva normal.

Os professores que trabalham comigo no STEP, que são pessoas maravilhosas, eles devem sair e fazer a diferença desta forma e construir salas de aula com mais equidade. Este é o nosso trabalho Se não fizermos isto, a democracia não estará presente.

por Rachel Lotan

Professora de Educação Matemática de Stanford.
Autora do livro Planejando o Trabalho em Grupo – Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas, lançado no Brasil pelo Instituto Sidarta em parceria com a Editora Penso.