
Alunos durante as aulas do programa Mentoria: aulas de estudo autônomo, aulas de hábitos de estudos e assembleias de classe
Programa de Mentoria do Colégio Sidarta torna os alunos capazes de estudar de maneira efetiva, além de provocar reflexões sobre o próprio aprendizado
por Camila Niemeyer*
Aprender a estudar, refletir sobre a melhor maneira de organizar informações, planejar a semana, priorizar entregas… tudo isso é essencial para o desenvolvimento dos nossos alunos. Por que não, então, colocamos todos esses procedimentos nos currículos escolares?
A Neurociência tem destacado, em inúmeras pesquisas, a importância da metacognição para o desenvolvimento dos estudantes. Definida por John Flavell, pesquisador da Universidade de Stanford, em 1970, a metacognição é o conhecimento que as pessoas têm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade de controlar esses processos, monitorando, organizando e os modificando para realizar objetivos concretos.
Pensando nos jovens que queremos formar, a questão é: como poderíamos instrumentalizá-los para serem capazes de estudar de maneira mais efetiva, fazer entregas de qualidade e no prazo, priorizar atividades, refletir sobre o próprio aprendizado e criar as próprias estratégias. Após estudos e levantamento de dados de realidade, debruçamos-nos sobre o tema e implantamos um programa batizado de “Mentoria”, em que um dos objetivos é o desenvolvimento da metacognição nos alunos.
O programa Mentoria, desenvolvido para alunos do 5º ao 8º ano, é constituído de três momentos: aulas de estudo autônomo, aulas de hábitos de estudos e assembleias de classe. Nesse último momento, são tradadas questões de convivência ética e também competências sociais. As aulas acontecem semanalmente e são ministradas por mentores, que têm um programa com planejamento adaptado para a realidade de cada turma.
Ao aplicarmos uma pesquisa com os alunos, os dados levantados por eles sobre esse programa mostram que, apesar de existir três frentes de trabalho, é claro para eles que a Mentoria favorece o desenvolvimento global e os fortalece para o futuro. Quando perguntados sobre por que o programa de Mentoria é importante, um item levantado aparece descrito de diferentes maneiras: autonomia nas relações com os colegas e professores, autonomia nas entregas, autonomia nas ações e atitudes e autonomia nos conflitos.
Como eu aprendo?
Nas aulas de Hábitos de Estudos, a metacognição é ampliada. Os alunos são apresentados a diferentes estratégias de estudo e podem se autoavaliar, treinar técnicas, refletir sobre como aprendem melhor, além de buscar outras formas de estudo. Assim, eles aprendem a fazer resumos, fichamentos, mapas mentais, apresentações em slides, registros no caderno… Os alunos citam que as aulas estão ajudando a descobrir como aprendem e como estudam de maneira mais efetiva, tendo mais foco e prazer pelo estudo.
No Estudo Autônomo, eles têm a oportunidade de colocar em prática a metacognição de maneira autônoma. Perguntados sobre a importância desse momento e como são aproveitados, os alunos responderam que utilizam essa aula, principalmente, para fazer lições de casa, levantar dúvidas sobre elas, mas que também as usam para organizar a agenda dos próximos dias, planejar ações que antecedem os trabalhos em grupo, prepararem-se para as avaliações formais, colocar atividades atrasadas em dia, tirar dúvidas e ajudar colegas com dificuldades.
Algumas estratégias foram criadas para facilitar essa rotina, entre elas o check-in (lista de ações que precisam ser feitas ao chegar à sala de aula) – os saquinhos de tarefas que ficam fixados em varais na sala identificados com o nome do aluno para que ele mesmo regule o que precisa ser feito ou que está sendo proposto de treino ou aprofundamento nas diversas disciplinas – e o check-out (lista de ações que precisam ser garantidas no final do período).
Com isso, oportunizamos o amadurecimento da autonomia e automonitoramento nos alunos e os preparando para novos desafios. As entregas estão mais efetivas, a qualidade está superior e os alunos estão sabendo se organizar para usar esses momentos de maneira mais produtiva, usando bem a agenda para o planejamento e administrando ao máximo o recurso tempo.
Se compararmos o número de lições de casa não entregues no primeiro bimestre em 2017, quando ainda não tínhamos a Mentoria, com os números de 2018, vemos uma queda de 70 %. Além disso, os alunos têm buscado tirar dúvidas sobre as lições para tentar realizá-las antes da entrega. Os dados comparativos mostram uma queda de 75 % nas lições de casa incompletas.
Na terceira frente de trabalho desse programa estão as aulas de Assembleia, que têm um formato que se alterna a cada 15 dias. Nelas, são trabalhadas as questões relacionadas à convivência ética e às competências sociais. Na pesquisa, os alunos descrevem que essas aulas são importantes, pois conseguem desenvolver empatia, reconhecer e identificar emoções, falar sobre sentimentos, melhorar o convívio com o grupo, facilitar a integração, resolver problemas, refletir sobre suas atitudes, além de promover o autoconhecimento.
*Camila Niemeyer é orientadora educacional do Colégio Sidarta