Desde 2015, a Ação Integrada Diversificada promove o envolvimento de crianças do 1º ao 4º ano, em grupos heterogêneos, com propostas que fogem do currículo convencional
por Telma Scott*
Há cerca de três anos, nós, no Colégio Sidarta, observamos a integração entre crianças de diferentes idades. Nos horários de recreio ou de saída, por exemplo, era comum vermos alunos de turmas diferentes conversando, brincando e aprendendo uns com as outros.
Isso gerou uma reflexão: nós, adultos, no ambiente de trabalho, também não interagimos somente com pessoas da nossa idade. Por vezes, trabalhamos com pessoas de gerações diferentes e, com certeza, aprendemos com elas, sejam mais novas ou mais velhas.
Seria possível criar na escola propostas para grupos heterogêneos (no caso, de idades diferentes) nas quais as crianças pudessem decidir sozinhas de quais participar? E mais: será que as propostas poderiam não estar relacionadas ao currículo obrigatório e convencional? Foi assim que nasceu a Ação Integrada Diversificada (AI Diversificada) no Ensino Fundamental I (de 1º ao 4º ano).
Ações para promover novas experiências
A AI começou como uma ação optativa, com duração de 50 minutos. O exercício da escolha era assegurado, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e possibilitando a ampliação de múltiplas habilidades, muitas vezes, negligenciadas pela escola.
Cada criança deveria escolher, num rol de oito ações, em qual se inscrever e participar dela durante seis semanas. Após a finalização de uma rodada, ela deveria optar por outra, podendo realizar outras ações, interagir com outro grupo de crianças e ter novas experiências.
Com os professores do segmento, o exercício foi o de pensar e planejar aulas que fugissem do currículo oficial, mas que fossem importantes, no sentido de proporcionar novas experiências às crianças. A equipe se mostrou aberta e receptiva à proposta e começaram a surgir outras ideias. Por exemplo: primeiros socorros, corte e costura, marcenaria, plantio na horta, manutenção do jardim, manutenção de brinquedos, criação de brinquedos, gastronomia e organização de mala para viagem.
“Agora, quando alguém se machuca na escola ou em casa, eu já sei como ajudar.” Julia S, 3º ano/2018.
Diferentes opções para diferentes interesses
Com o primeiro bloco de ações definidas, partimos em busca de parceiros que nos ajudassem na elaboração. Para a AI de Primeiros Socorros, buscamos o apoio da Creche Segura, empresa parceira que realiza anualmente a formação da equipe de professores do Colégio Sidarta.
Na de Marcenaria, uma das crianças ofereceu a ajuda de sua mãe, alegando que ela sabia colocar pregos e usar a furadeira. Aos poucos, outras mães foram se propondo a contribuir. No segundo ano de existência, a AI Diversificada ficou, oficialmente, mais integrada, contando com a participação ativa de familiares, juntamente às crianças e aos professores.
“Sempre quis ensinar crianças a costurar. Também aprendi com elas.” Miriam, avó de alunos dos 3º e 5º ano/2018.
Avós na costura e também na gastronomia, mães e pais na marcenaria; mães na organização de malas e nos primeiros socorros… também surgiram complementos preciosos, como no caso de uma mãe dentista que trouxe para os primeiros socorros o foco da queda de dentes em acidentes.
Integração de verdade entre família e escola
A participação das famílias na rotina da escola gerou um momento de preocupação e, talvez, até de desconforto na equipe de professores. E se acontecesse algum conflito entre as crianças? E se fosse necessário chamar a atenção de alguém? Mas, nossa decisão foi assertiva. Vida real! A vida escolar como ela é! Professores educando crianças. Crianças ensinando crianças, crianças compartilhando saberes e reconhecendo que é possível aprender com todo mundo: professores, familiares e colegas – mais novos e mais velhos. Famílias em parceria com escola, todos com um objetivo comum: oferecer o melhor para as crianças.
“As famílias não podem ter uma Ação Integrada para elas? Eu também quero aprender a costurar e fazer primeiros socorros.” Rita, mãe de aluno do 2º ano/2018.
A AI Diversificada promoveu o exercício de um dos princípios do Sidarta: Teorias não substituem experiências de vida. As crianças ampliaram as relações interpessoais, perceberam que os mais novos sabiam coisas que os mais velhos não conheciam e que todos aprendiam com todos e se ajudavam mutuamente.
Da teoria à prática
A AI Diversificada foi baseada na teoria de Lev Vygotsky, que defende que a aprendizagem ocorre quando há interação entre pares em diferentes estágios de desenvolvimento. A estratégia de trabalho em grupo proposta por Rachel Lotan reforça a importância de grupos heterogêneos, afirmando que os mesmos são uma grande vantagem, pois a diversidade promove mais trocas e mais aprendizagem. Outra inspiração foi a Atividade Diversificada defendida por Telma Vinha, na qual as crianças são encorajadas a serem independentes, exercitarem a iniciativa pessoal e a desenvolverem a autonomia, fazendo escolhas e arcando com as consequências.
*Telma Scott é coordenadora pedagógica de Ensino Fundamental I (de 1º ao 4º ano)